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segunda-feira, 31 de outubro de 2011

zines e afins


ZINE E AFINS
A dificuldade em definir o que é um fanzine, onde e quando ele surgiu nos remete a tempos distantes. Como quando Gutemberg imprimiu seu primeiro impresso na sua invenção. Mas como sabemos, historicamente a sua impressão se trata da Bíblia Sagrada. E isto definitivamente não pode ser considerado um fanzine. Mas a partir deste ponto podemos confabular sobre as inúmeras impressões feitas a partir deste conceito de impressão. Mesmo sem a aproximação com a cultura alternativa (fenômeno moderno que nos remete aos conceitos da indústria cultural de massa). Podemos ir mais longe e supor que o derradeiro material “zinético” pode muito bem ter sido um
manuscrito com uma tiragem reduzidíssima, cunhado a base de nanquim, pena, e feito num couro de cabra. Tudo isso com a mesma dedicação que um zineiro moderno tem ao selecionar textos, escrever, diagramar, imprimir, xerocar, montar e distribuir as suas cópias.
O que é possível dizer sem achismos é que a história da imprensa no Bra$il pode falar bastante sobre o surgimento dos fanzines. Até a chegada da família real no Bra$il ,em 1808, os habitantes da colônia estavam proibidos de publicar qualquer tipo de jornal ou ofício, a ponto de não existirem prensas ou corporações de ofício capazes de imprimir documentos aqui na Terra Bra$ilis. Com a vinda da corte para o Brasil, o rei Dom João VI começa a criar instituições, como o Banco do Brasil, o Jardim Botânico e entre outras, a Impressão Régia, onde foi impresso o 1º jornal “oficial” brasileiro. A Gazeta do Rio de Janeiro, uma mera reedição da Gazeta de Lisboa, repleta de
listas de atos oficiais, resumos das folhas européias e louvores à família real. Jornais independentes, escritos por qualquer cidadão era proibidos, principalmente se ousassem tocar no assunto política.
Hipólito da Costa publicou a partir de 1808, o “Correio Brasiliense”, um jornal em língua portuguesa liberado de qualquer censura, que comentava aspectos da política do Império relativos ao Bra$il. O Correio Brasiliense influenciou o modo de fazer jornalismo político feito por aqui até os dias atuais, o impresso só viria a ser liberado apenas em 1821 após a Revolução do Porto. Na Segunda metade do século XIX, a imprensa européia, incorporou um novo recurso a impressão: a litogravura (técnica de impressão de imagens em pedra). Os jornais abrem então espaço para desenhos, fotos, caricaturas. Em 1876 surge no Bra$il a Revista Ilustrada, um jornal com charges e caricaturas de personalidades  da época que falava de
política de um forma que pessoas semi analfabetas e leigos podiam entender. Ângelo Agostini, o ser engajado que desenhava, escrevia, imprimia, publicava e distribuía o jornal, usava um traço cheio de humor e ironia para criticar políticos, empresários e fatos inacreditáveis de um país que então vivia entre a decadência do império e os ideais republicanos. A Revista Ilustrada guardava todos os aspectos de um fanzine dedicado aos quadrinhos, mas por ser de outra época talvez não entrasse no contexto de  fanzine, e como não trazia heróis musculosos, musas voluptuosas e dragões de sete cabeças em suas páginas dificilmente seria assim chamado. É difícil afirmar uma data precisa, tanto pela produção, como pela mutação do zines (formatos, época, estilos, etc...). Porém, para estes modernos tempos temos algumas outras especulações; Bom, dizem as más línguas que o zine (fanzine) como conhecemos hoje, surgiu na década de 1970, junto com o movimento punk na Inglaterra. Leonardo Panço (zineiro, colaborador e editor de zines) afirma que o primeiro zine que se tem notícia tinha por nome “Sniffin’ Glue” e fora editado pelos idos de 1976, na cena do punk inglês. Ao lado dessa versão existe outra onde diz que os zines teriam surgido lá pelos anos da grande depressão americana (1930). De acordo com essa versão, o primeiro zine da época então conhecido como Fanmag (fanatic magazine), foi publicado por Ray Palmer para o Science Correspondence Club, em maio de 1930. O tal Fanmag chamava-se “The Comet” e falava de cinema e literatura de ficção científica. É o que diz o zineiro Douglas Dickel, editor do “Music Zine”, e autor de monografia sobre o assunto.
Em geral, é um veículo de opinião “extra oficial”, que não está comprometido com empresas, organizações, governos, ou  instituições. Podemos dizer que os zines estão a serviço da “desorganização”, da difusão desordenada da informação, sem formatos preestabelecidos ou manuais de redação e estilo, mas que não deixam de criar em torno de si uma organização própria, com temas, público, linguagem e táticas de publicação. E por ser uma imprensa de cunho libertário/alternativo, os papeis são constantemente trocados, ou seja, o leitor de hoje é o editor de amanhã, e vice e versa. É quase inevitável associar a Cultura do Zine à Cultura Alternativa. Os zines estão onde as pautas dos jornais e revistas ainda não chegaram. “Os zines são a eminência parda da imprensa cultural brasileira. Tudo que os editores de cadernos culturais escrevem é dito antes nos zines, e muitos destes editores são ex fanzineiros” afirma Rodrigo Lariú, editor do zine Midsummer Madness, de 1989. (O Midsummer é um exemplo de como um fanzine despretensioso pode se tornar algo bem maior, e de
certa forma rentável; hoje o este zine é um selo de bandas independentes.
Os zines geram uma grande troca de informação entre seus leitores e editores, movimentam a cena underground recheada de novas bandas, ilustradores, jornalistas, escritores, poetas em busca de espaços e público. Neste sentido, o do porquê de sua existência está calcado em três pontos principais: a paixão por um determinado assunto ou prática; o desejo de expressão de ideias, pensamentos ou o que for, e a satisfação pessoal de ver a repercussão
pública de algo absolutamente autoral. Para Tom Leão, zineiro desde seus 13 anos e editor do “Rio Fanzine” (um verdadeiro fanzine dentro do Jornal O Globo): “Uma revista vendida numa banca de jornais não é um fanzine, qualquer outra forma de expressão escrita, no papel ou numa página da internet, e que circule livremente é um fanzine. O
tema é livre”.
O que é esse tal de fanzine?
 Sendo assim podemos destacar algumas características básicas dos zines: liberdade de expressão e temas, formatos variados, pequenas tiragens (no caso do papel), busca de satisfação pessoal por parte de editores e colaboradores, divulgação de ideias marcadas por um caráter autoral e a ausência de cunho comercial. Pegue uma folha de papel em branco, algumas revistas, desenhos, etc... E vá colando a sua maneira. Existem zines que nada tem de palavras, somente imagens que em comunhão uma com as outras formam “textos” incríveis. Se for o caso “escaneie” suas imagens preferidas vá montando no computador. Depois é só imprimir, fazer algumas cópias e distribuir a seus amigos.

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